É um trabalho colossal: todas as canções de Nara com as letras das músicas, fichas técnicas e textos dos encartes (além de fotos, gravações esparsas e textos diversos), à disposição de todo mundo. E como disse alguém no Twitter: já vem com a autorização do titular dos direitos autorais. Está tudo no site da cantora.
“Em 19 de janeiro deste ano minha mãe faria 70 anos. E este é o meu presente, compartilhar sua obra para que todos possam se deliciar, ouvir e pesquisar à vontade”, disse Isabel, em email enviado anteontem a amigos e gente ligada à música. “Paramos muitas vezes no meio do caminho. Não tivemos apoio”, diz Isabel, que contou com ajuda da pesquisa de Frederico Coelho e com o design e a engenharia da 6D.
Influentíssima para diferentes intérpretes (como Ná Ozzetti) e gerações (uma de suas discípulas mais assíduas é Fernanda Takai), Nara foi extremamente politizada e consequente. Acreditava que “a canção popular pode dar às pessoas algo mais que a distração e o deleite”, pode ajudar a compreender melhor o mundo e levar o ouvinte a um nível mais alto de compreensão da realidade.
Em 1966, sua opinião política, expressa em entrevista ao Diário de Notícias (a manchete foi “Nara é de opinião: esse exército não vale nada”), causou “imensa repercussão e ameaças de prisão por parte do regime ditatorial”, lembra texto no site.
Ameaçada de enquadramento na Lei de Segurança Nacional, amigos intelectuais, como Rubem Braga, Carlinhos de Oliveira e Carlos Drummond de Andrade, saíram em sua defesa. Drummond fez um poeminha para Nara, Imagens em Ão: “Se o general Costa e Silva/ já nosso meio chefão/ tem pinta de boa-praça/ por que tal irritação?”.
Nara estreou em disco em 1964. “Por incrível que pareça, a moça Nara leão tem sido, desde os primeiros passos da bossa nova, uma espécie de musa do movimento”, escreveu Aloysio de Oliveira (cantor e produtor que integrou o Bando da Lua, grupo que acompanhou Carmen Miranda). Mas Aloysio ressaltava que, no primeiro disco, ela já surpreendia e fugia da bossa nova, migrando para um repertório variado que incluía músicas que nada tinham a ver com a bossa (compositores como Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Kéti).
Compositores da nova geração também compareciam na seleção (Carlos Lyra, Edu Lobo, Baden, etc.) “Mas mesmo desses ela se inclina para as composições de tendências puramente regionais”, continua Oliveira. “Nara procura fugir totalmente de sua personalidade de menina mansa, interpretando, embora de um modo moderno, e com a sua voz pura e inconfundível, aquelas músicas que ela escolheu e que provocam um estranho e agradável contraste.”
“Nara cantou Roberto Carlos e todas as músicas de que gostava, da Tropicália à cafonice, com açúcar e afeto, seus sonhos dourados em traduções de Gershwin, canções de protesto e canções infantis, carnavais e latinidades, temas dramáticos e bem-humorados, subindo morro e sempre, sempre, distante das modas”, escreveu Norma Couri no Estado, em 1998. “Ela sempre foi pioneira, quando foi musa da bossa nova e quando gravou o primeiro disco”, disse o biógrafo de Nara, Sérgio Cabral. “Sempre descobrindo as novas tendências antes de todo mundo, antes mesmo da música popular.”
Nara Leão realizou seu último show em uma miniturnê por cidades do Norte do País, apresentando-se em março no Iate Clube de Belém do Pará. No dia 7 de junho de 1989, morreu na Casa de Saúde São José, Rio de Janeiro. “No fim das gravações de My Foolish Heart, Nara já estava doente e teve dificuldade de botar voz em algumas faixas. Não dá para perceber. Como em todas as suas gravações, sua voz aparece limpa, detalhista, amorosa”, escreveu Arthur Xexéo, sobre o último disco.
Fonte: Blog Megaphone, em 18/01/2012
O Terra Papagalli aproveita e indica um vídeo fantástico com Nara Leão. Era 1967, em um dos festivais da Record, a cantora apresenta uma versão fantástica de As Tears Goes By, dos Rolling Stones! Curtam aí!
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