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domingo, 19 de agosto de 2012

#Música Siba: Doutorado no sertão

Matéria a seguir da revista Carta Capital apresenta o última trabalho do pernambucano Siba, que era do Mestre Ambrósio, na época em que o manguebeat estourou pelo país afora. No site dele, é posível fazer o download do novo disco dele! Curtam!!

"POETA É O QUE tira de onde não tem e bota onde não cabe.” A frase é de Pinto do Monteiro, grande violeiro da Paraíba e uma das referências de Sergio Veloso, Siba, também ele poeta que faz da música seu veículo. Aos 43 anos, o pernambucano de fortes raízes fincadas no Agreste vive o amadurecimento de um processo em que passou a questionar tudo o que até então tinha como certeza.


Fundador do grupo Mestre Ambrósio, surgido na efervescência do movimento manguebeat nos anos 1990, Siba viu de perto como é estar no mainstream. O contagiante pop nordestino produzido pela rabeca, zabumba, percussão e sanfona transpôs fronteiras regionais e nacionais. Mas o músico que cresceu num subúrbio de Olinda e do Recife tinha outro mundo a falar mais ilto. No auge do sucesso e reconhecimento, em 2001, rompeu com tudo, Iargou a estabilidade e foi viver uma jornada épica em Nazaré da Mata, região canavieira de passado escravocrata, berço de um maracatu único conhecido como baque solto. Foram dez anos de mergulho profundo.

“Fui investir na minha formação, fazer meu doutorado.” Uma graduação no meio do mato e de gente simples. A casinha alugada, elegância que brota do despojamento, felicidade genuína. O apogeu que ninguém viu, como costuma dizer. A frase vem de mofa, o riso a relembrar o garoto que aos 7 anos estudava flauta, depois trocada pela guitarra, mais tarde pela rabeca e hoje retomada. Apesar da universidade de música, Siba ainda se sentia um artista sem formação sólida. Precisava do que só Nazaré da Mata, cidade de 300 mil habitantes a 65 quilômetros do Recife, podia oferecer-lhe.

“Nazaré da Mata tem uma cultura particular, específica, intensa, dinâmica, atual. Na minha cabeça de músico então com 19 anos a querer gravar som descobri ali uma escola, um sistema, uma coisa mais viva que a universidade”, conta. Logo ele percebeu a riqueza do lugar. E intuiu que não era coisa de se aprender de um dia para outro. “Eu me dei para aquilo, me envolvi. Comecei a fazer parte do Cavalo Marinho (teatro de rua), do maracatu.

Isso foi se processando ao longo dos anos, passei a me desenvolver como artista que tem a poesia no centro de tudo. Passei a ver no maracatu e no mestre de maracatu um modelo maior de artista.” Filho da primeira geração de classe média da família, Siba vivenciou o que define como cultivo da saudade e orgulho da origem. “Meus pais saíram do sítio para estudar em colégio interno. Ele advogado, ela professora. Meu pai sempre cultivou essa saudade, íamos habitualmente para o sítio do meu avô. Tinha uma coisa de manter o fluxo da volta.”

Os parentes de Siba vêm da região do Semiárido de Pernambuco. Os avós foram pequenos agricultores. “Fui criado numa cultura de grande amor à terra, a valorizar o trabalho e o crescimento por meio dele.” O pai “tinha uma coisa forte com a poesia”. Na casa paterna, o cantador de viola era cultuado como um artista superior, quase sobrenatural. “O improviso tem toda uma aura mística. Cresci com esse imaginário.”

A aproximação com os mestres de maracatu de Nazaré da Mata foi um processo simbólico, de aceitação. “Nunca tive barreira alguma por ser um cara de boa aparência, de classe média, que estudou, veio do Recife. Claro que não me olhavam como um local, pois não tinha como me disfarçar de cortador de cana e analfabeto. Ao mesmo tempo eu gostava do que eles gostavam e comecei a aprender um pedacinho de cada coisa.”

Ao longo do tempo, Siba tornou-se o sujeito que toca um pouco de percussão, conhece uma coisa e outra, está sempre presente. “Comecei a conquistar um espaço de amizade. O pouco que eu cantava me dava o espaço do tamanho que eu merecia.” O caminho até o apogeu foi fongo. O ofício da poesia, que modestamente classifica como “um fazer artístico como qualquer outro”, a brotar mediante técnica e esforço, foi por ele apropriado desde a infância. “Tem coisa que você só pega muito cedo. Um tipo de jeito de sentir.”

A cantoria, a torrente poética que brota dos mestres de maracatu e pode durar horas, é descrita por Siba como quase um esporte obsessivo. “O poeta tem de viver daquilo. É um ofício difícil, a exigir uma vida de dedicação para dominar a técnica. Tem regras, elementos e exige profundidade.” Mais uma vez, é na simplicidade que a riqueza da manifestação transparece.

“Uma noite inteira de maracatu precisa apenas de um carro de som, um cabo, um microfone e uma gambiarra para puxar a luz. Cinco pessoas batendo percussão e se tiver um só sujeito no metal já fica animado.” Pronto o ínfimo aparato tecnológico, começa o ritual em que 300, 500 pessoas compartilham uma mesma linguagem, dançam, concentram-se na poesia. “Se a sambada for de dois mestres, o desafio, os espectadores passarão a noite de pé, a apreciar o duelo poético.”

Do cantador exige-se saber os versos de cor. “Para o público não importa se você fez as rimas em casa ou de improviso, importante é não repetir. A música você compõe ou toma de alguém. No mundo da poesia oral a relação de autoria não está apegada à melodia, mas não imite nem roube verso de ninguém”, frisa.

No habitat por ele eleito, Siba se fez mestre de maracatu. Criou com músicos locais o grupo Fuloresta do Samba, samba aqui com o significado de reunião em torno da festa. O mais novo tinha 19 anos e o mais velho, 70 e poucos. Profundamente conectado, estabeleceu um diálogo com a tradição. Siba tem restrições à expressão tradição, geralmente associada a algo velho, desgastado. “Quando se fala que me uni a um grupo tradicional, limita-se severamente o trabalho de exploração e potencialização feito ao longo de anos. Foram dois discos (Fuloresta do Samba e Siba e a Fuloresta) que têm uma contribuição estética razoável. Nada daquilo está exatamente igual à tradição. Ao se rotular como algo tradicional e associar isso ao passado, nega-se o presente à pessoa.”

Em determinado momento de sua trajetória, Siba voltou a colocar em perspectiva o modelo e o formato adotado como artista. Deixou Nazaré da Mata e passou cinco anos na preparação de Avante, disco em que toma sua vida como matéria prima. O processo está no documentário Siba, nos Balés da Tormenta, que sai em DVD no segundo semestre.

A melhor definição do que é o novo trabalho, segundo Siba,foi feita por Fernando Catatau, produtor do CD: “É um rock estranho”. “Os gêneros hoje estão misturados. Lido com referências muito plurais.” Entre o que não se define e o que se intui estão canções como Qasida, em que Siba retoma Pinto do Monteiro: Não adianta tirar de onde não tem/nem tentar encaixar onde não cabe/Sem saber alguém tenta, e quando sabe/já não dá nem um passo mais além. Ou a tocante Ariana, que o autor diz não se referir necessariamente a uma personagem feminina: Não me negue um carinho, pequenina/só teu toque alivia o meu desgosto/Ponha rendas de neve no meu rosto/deixe a névoa cobrir minha retina. Ao fim e ao cabo, Siba mudou para permanecer o mesmo: poeta.

Fonte: Carta Capital, em 04/07/2012

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7 comentários:

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