Jornalista não tem medo de cara feia, de fazer perguntas incômodas e de escrever a verdade doa a quem doer. Mas se pela de pavor do passaralho.
Também pudera. Quando o bicho dá voo rasante, faz estrago danado nas redações. Sim, passaralhos são carnívoros e se alimentam de jornalistas.
Embora o respeitadíssimo dicionário Houaiss assegure que a dieta desse substantivo masculino inclui representantes de outras classes, o maldito gosta mesmo é de digerir repórteres, fotógrafos, redatores, editores e assemelhados.
Na edição desta semana da revista Carta Capital, o colunista Carlos Leonam faz autópsia no dito-cujo que assombra os sonhos da classe jornalística.
- Dizia-se nas redações do Rio de Janeiro que a guerra árabe-israelense, em 1973, fez um grande estrago na imprensa carioca: a defenestração de Alberto Dines do comando do Jornal do Brasil, no início de dezembro daquele ano, resultou no maior passaralho da história das redações nacionais. E foi mesmo! A médio prazo, todas as chefias ligadas a Dines e Carlos Lemos foram caindo, de uma maneira ou de outra.
A tensão e a insegurança que se instalaram na redação do velho JB não impediram que criativo redator da casa, muito provavelmente Joaquim Campelo, definisse o monstro em verbete. Carlos Leonam o reproduziu de modo inédito na coluna ‘Conhece o passaralho?’.
E o blog faz o mesmo:
Passaralho s.m (brasl). Designação popular e geral da ave caralhiforme, faloide, família dos enrabídeos (Fornicator caciquorum). Bico penirrostro, de avultadas proporções, que lhe confere características específicas, próprio para o exercício de sua atividade principal e maior: exemplar. À sua ação antecedem momentos prenhes de expectativa, pois não se sabe onde se manifestará com a voracidade que, embora intermitente, lhe é peculiar: implacável. Apesar de eminentemente cacicófago, donde o nome científico, na história da espécie essa exemplação não vem ocorrendo apenas em nível do cacicado. Zoólogos e passaralhófitos amadores têm recomendado cautela e desconfiança em todos os níveis; a ação passaralhal é de amplo espectro. Há exemplares extremamente onívoros e de atuação onímoda. Trata-se este do mais antigo e puro espécime dos Fornicatores, sendo outros, como p. ex., o picaralho, o birroalho, o catzralho etc., especímes de famílias espúrias submetidas a cruzamento desvirtuados do exemplar. Distribuição geográfica praticamente mundial. No Brasil, é também conhecido por muitos sinônimos, vários deles chulos. Até hoje discutem os filólogos e etimologistas a origem do vocabulário. Uma corrente defende derivar de pássaro + caralho, por aglutinação; outra diz vir de pássaro + alho. Os primeiros baseiam-se em discutida forma de insólita ave; os outros, no ardume sentido pelos que experimentaram e/ou receberam a ação dele em sua plenitude. A verdade é que quantos o tenham sentido cegam, perdem o siso e ficam incapazes de descrever o fenômeno. As reproduções que dele existem são baseadas em retratos falados e, por isso, destituídas de validade científica.
Fonte: Blog do Evaldo Novelini, 15/08/2012
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