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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

#Música A África nos instrumentos do Bixiga 70

O que acontece quando um conjunto de músicos vindos da cena independente paulistana resolvem se encontrar para manifestar seu amor pela música africana? Basta observar o primeiro álbum do coletivo Bixiga 70 que você encontrará todas as respostas. Concentrando nada menos do que 10 integrantes, o grupo paulistano apresenta agora sua homônima estréia, um composto de dez composições instrumentais repletas de primor e que estabelecem um forte laço entre a cultura brasileira, o continente africano e a música que por lá é anunciada.


Composto por integrantes vindos de distintas bandas, como Projeto Coisa Fina, Gafieira Nacional, ProjetoNave, além de músicos de apoio de artistas como Léo Cavalcanti e Anelis Assumpção,  o coletivo surge como um grande sopro de inventividade e despojo ao cenário instrumental brasileiro. Conceituais, mas sem perder a ginga e a naturalidade de suas composições, o grupo capitaneado pelo baterista Décio 7 promove ao longo de sua dezena de canções uma mistura instrumental forte, repleta de ritmo e reverberações convidativas que hipnotizam o ouvinte logo em seus minutos iniciais.



Embora uma rápida audição do suntuoso registro puxe facilmente o trabalho do coletivo para junto das mesmas experiências exaltadas pelo nigeriano Fela Kuti – o pai do Afrobeat -, muito do que compõem a estréia da big band paulistana se concentra em outros sons exaltados em solo africano. Além da forte conexão com a música além mar, um fino tempero de jazz é o que possibilita ao grupo a constituição de um trabalho mais sólido e maduro, garantindo a promoção de um álbum que mesmo vasto e repleto de suingue, mantém uma linha instrumental sóbria e bem estabelecida.

A sonoridade exaltada pelo grupo, entretanto, vai muito além da estrita música convencional, encontrando sustento nas trilhas sonoras da década de 1970, principalmente no trabalho de compositores que ajudaram a delimitar as características da Blaxploitation. Entre diversas incursões pelo trabalho de artistas como Quincy Jones e Isaac Hayes, a banda ainda tira tempo para visitar rapidamente os sons promovidos pelo cinema de Bollywood, materializando assim composições carregadas de beleza e flexibilidade instrumental, faixas aos moldes de em>Zambo Beat e Tema di Malaika, que impressionam pela concisão e a vastidão de seus elementos.

Mesmo entregue ao uso de diversificados experimentos musicais e encaixes precisos de sons, o álbum passa longe de se revelar como um trabalho demasiado complexo ou voltado para um público deveras específico. Composições como Mancaleone e Grito de Paz, por exemplo, garantem a busca por um som funcional, dançante e acessível, possibilitando que o grupo se aproxime de todos os públicos, mesmo aqueles que assumam certa aversão ao explorar de sons estritamente instrumentais.

Se primorosas são as experiências da big band na construção de composições mais voláteis e quase didáticas ao grande público, ainda mais intensas são as faixas que concentram seus esforços na busca por um som essencialmente complexo. Do dub enérgico de Balboa Dub ao jazz esvoaçado de Desengano da Vista, o grupo vai aos poucos promovendo uma sucessão de acertos, atacando o público por todos os cantos, transformando sua homônima estréia em um registro impossível de passar despercebido.

Fonte: Miojo Indie, em 03/11/2011



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