Paulo Freire faria
90 anos em setembro de 2011 e para homenageá-lo, a Editora Fundação
Perseu Abramo em co-edição com a Editora da UnB vai relançar o livro
"Comunicação e cultura: as ideias de Paulo Freire", escrito por Venício
A. de Lima.
A partir da análise da obra de Paulo Freire e de muitas horas de
conversa com o educador, Venício finalizou a sua tese de doutoramento,
defendida em 1979 e que foi adaptada para a primeira edição do livro.
Trinta anos depois, a obra é relançada revista e com nova introdução,
apresentando a atualidade do pensamento daquele que é reconhecido como o
mais importante educador brasileiro. A atualidade dos temas aos quais
Freire se dedicava como o direito do cidadão à comunicação o coloca
lado-a-lado com pensadores atuais.
No livro, Venício apresenta as ideias de Paulo Freire em quatro
capítulos, nos quais são aboradados temas como o contexto social das
ideias de Freire, o conceito de comunicação e cultura de Paulo Freire e a
importância do educador para os estudos de comunicação.
Leia abaixo a entrevista com Venício A. de Lima:
Como nasceu sua amizade com Paulo Freire e como foram suas conversas com ele para a elaboração de sua tese?
Quando Paulo estava no Conselho Mundial de Igrejas em Genebra fiz vários
contatos com ele por carta. Em 1978, era estudante em Urbana, Illinois,
e ele participou de um seminário na Universidade de Michigan. Fui lá e
me encontrei pessoalmente com ele. Conversamos longamente durantes dois
dias. Daí prá frente, até a sua morte em 1997, tive o privilégio de
privar de sua amizade e de sua família. Fiquei, inclusive, muito amigo
de Elza e, depois, de Nita, sua segunda esposa.
Poucos conhecem o pensamento de Paulo Freire sobre comunicação.
Esse seria um dos motivos para a republicação de "Comunicação e cultura:
as ideias de Paulo Freire" 30 anos depois?
Com certeza. Paulo até hoje é sempre identificado apenas como educador,
mas, na verdade, o seu pensamento é muito rico para várias areas do
conhecimento, inclusive a comunicação. Creio que uma das razões pelas
quais nos aproximamos foi exatamente essa: percebi antes de outros que
ele tinha uma contribuição importante para os estudos de comunicação.
Como Paulo Freire - que não dissociava a cultura e a educação da política - entendia a comunicação?
Como uma relação dialógica entre sujeitos em torno do objeto de
conhecimento. Só que essa afirmação tem que ser entendida no contexto
do pensamento de Freire sobre a sociedade e, sobretudo, o papel do
sujeito na transformação criativa das condições nas quais ele se insere
socialmente. É isso que tento explicar no livro.
Você estudou a fundo a obra de Paulo Freire. De que forma ela
vem influenciando educadores e comunicadores até os dias atuais no
Brasil e no exterior?
Infelizmente, na área de comunicação sua influência é muito
menor do que deveria ser. Esse ano mesmo, aqui no Brasil, comemoram-se
os 100 anos de McLuhan - um importante autor canadense - mas não se
lembra dos 90 anos de Freire. Alguns "puristas" influentes, que
irrealisticamente procuram um objeto específico para o estudo daquilo
que entendem como comunicação, rejeitam Freire por acreditar que ele não
é do mesmo campo de estudos.
Quais sentimentos afloraram em você ao rever a obra sobre Paulo Freire?
Revisando agora o texto de minha tese de doutorado, escrita na segunda
metade da década de 70 do século passado, me dei conta de como Freire
ainda é atual. O sentimento que me dá é de agradecimento pelo privilégio
de tê-lo conhecido e estudado. Espero que a segunda edição do
Comunicação e Cultura: as ideias de Paulo Freire possa recolocá-lo na
agenda de discussão sobre a comunicação.
Fonte: Fundação Perseu Abramo, em 15/09/2011
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