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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Boato sobre ouro forma um novo garimpo na divisa Pará-Maranhão

Começou há menos de dois meses. O boato chegou a Aurizona (MA), Marabá (PA) e aos ouvidos de alguns velhos garimpeiros de Serra Pelada e do Suriname. A notícia é que tem ouro, muito ouro, perto da isolada Viseu (a 361 km de Belém, PA).

Bastou a remota possibilidade de enriquecer para que centenas de homens, mulheres e crianças migrassem para certo trecho da beira do rio Gurupi, na divisa do Pará com o Maranhão.

Não se sabe quem foi o primeiro a chegar. Nem quanta gente já se instalou sob os barracos de lona, montados com troncos das árvores derrubadas ali mesmo, ao lado da lama do mangue.

Alguns falam em 300 pessoas; outros, em 500. Em média, são dez garimpeiros que chegam a cada dia, em barcos fretados -a viagem dura cerca de uma hora e 15 minutos a partir de Viseu.

Para seus criadores, o garimpo que chamam de Arrecife (ou Samaúma, como outros dizem) é um dos mais promissores da Amazônia.

Mesmo sem usar máquina, um homem sozinho pode tirar até cinco gramas de ouro por dia -R$ 250.

Usam técnica ancestral: retiram e "lavam" a lama do fundo do rio, esperando o ouro se acumular no fundo das bateias ou nos degraus das caixas de madeira retangulares -as "cobrinhas".

"Já vieram duas vezes com motor para instalar aqui, mas não deixamos", disse Waldênio Monteiro, 40, que há um mês era segurança da Prefeitura de Viseu.

No ideal romântico da comunidade não cabem as máquinas, a bebida alcoólica, a prostituição, as armas de fogo ou o mercúrio -que facilita a busca pelo ouro, mas polui a água e corrói os nervos humanos.

Querem evitar os cenários de caos, violência e doença associadas às áreas de exploração minerária amazônica.

"Ninguém briga. Isso aqui é um garimpo família, que respeita o ambiente", disse Monteiro.
De fato, crianças e mulheres estão por toda parte. As mulheres cozinham e as crianças ajudam no trabalho.

Agora, com o final das férias escolares, os pais querem mandar os filhos de volta para morar com parentes em suas cidades de origem.

Como quase todo mundo, Ivaldo Barros, 50, é do Maranhão. Ele vê um futuro grandioso para quem souber garimpar no Arrecife, que, diz, é uma das raras áreas de exploração apenas manual.

Ele só teme duas coisas: jornalistas e o Ibama. Os jornalistas, dizem, são "alcaguetes", que espalham a fofoca do ouro e atraem de tudo, até a "bandidagem".

O Ibama é pior: pode interditar a área. "Todo garimpo precisa de licença para funcionar. Este ainda não tem.

Assista ao vídeo em http://storage.mais.uol.com.br/player_video.swf?mediaId=5923758&embed=false.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo, em 12/08/2010

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